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Nem o presidente da República parou a jogadora Guiomar

Nos idos dos anos 1940, o então presidente Getúlio Vargas achou que as mulheres não deveriam jogar futebol e fez uma lei. O decreto durou mais de 40 anos até o esporte ser reconhecido.

Publicada em 08/03/24 às 09:16h - 118 visualizações

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Nem o presidente da República parou a jogadora Guiomar
Atualmente Guiomar não comanda qualquer equipe, mas sua paixão é o Vasco da Gama  (Foto: Divulgação - Álbum de família)

Muito antes de Martha vestir a amarelinha da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, uma mulher ousou colocar seu time em campo em plena ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas. Foi Guiomar Mesquita Silva, 80 anos, que mora na pacata Santa Cruz, em Aracruz. Longe dos holofotes da grande imprensa jogava tranquilamente nos campos da cidade onde nasceu.


Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a homenageada é a ex-jogadora e ex-técnica, que não deixou o decreto presidencial barrar sua paixão pelo futebol. Embora a legislação fosse clara com relação à prática esportiva pelas mulheres, as jogadoras de Santa Cruz pouco foram incomodadas.


O veto ao futebol feminino teve início em 1941 e terminou somente próximo à abertura democrática, em 1983. A discriminação estava presente na própria lei que dizia que mulher não podia praticar esportes “incompatíveis com as condições de sua natureza”. A fonte da informação é a Agência Senado.


Mas durante esse período, Guiomar vestiu seu uniforme de goleira do Santa Cruz e não foi impedida de jogar. 


“Ouvia palavras de algumas pessoas que diziam que ‘mulher tinha que estar na cozinha lavando prato’, mas nunca deixei de jogar ou de comandar uma equipe por causa dessas pessoas. Eu fazia parte do Santa Cruz e apenas pedi meu desligamento. Fui convidada pelo Ita para comandar a equipe do Irajá (restaurante tradicional de Santa Cruz)”, lembrou.


Já de malas prontas para desembarcar na “vida normal de uma mulher com seis filhos”, Guiomar recebeu o convite para ser técnica do Náutico, equipe também de Santa Cruz. Constantemente ouvia palavras desagradáveis por ser mulher e por gostar de futebol. Porém, ao contrário de muitos homens fora de campo, dentro das quatro linhas, ela obteve o respeito dos jogadores.


Com a batuta do Náutico em suas mãos, Guiomar comandou a equipe em vários locais. Lembrou de jogos na Barra do Jucu, em Vila Velha, onde sofreu uma derrota. Depois obteve vitória com o time em Piúma, no Sul do Estado. Em Guaçuí a equipe do Náutico foi recebida com festividades pela municipalidade.


Outro fato inusitado na carreira como técnica foi contra o Cruzeiro de Fundão. 


“Ganhamos de 1 a 0. E, na cidade, pegaram no pé dos jogadores locais por terem perdido para um time comandado por uma mulher. A revolta foi tão grande que populares queriam promover um quebra-quebra nos dois ônibus que transportavam o time e torcedores do Náutico. Saímos escoltados”, recordou Guiomar.


Em sua equipe, a ex-técnica recebeu jogadores de Linhares, da Barra do Riacho (Aracruz), da Sede e de Nova Almeida (Serra).


Torcedora do Vasco da Gama, Guiomar lembrou que na época em que jogava, havia outras conterrâneas que também tinham a bola no pé. E referiu-se a algumas delas.


“Além de mim, tinha a Fátima Devens, a Margareth Cabideli, a Sandra, Selene. Tinham outras que me fugiram o nome da memória”, citou.


A paixão pelo futebol foi passada aos seus filhos: Carlinhos, que jogava de central; Luizinho que atuou como ponta esquerda e depois foi goleiro; João Carlos, seu filho falecido em um acidente automobilístico, que jogava de lateral esquerdo; Eduardo na lateral direita e Juninho que também é goleiro de beach soccer e ainda joga beach tênis.


A única filha, Roseane, também cedeu aos encantos do futebol, porém, um problema no tornozelo a tirou dos gramados.


“Havia alguns amigos que diziam que eu bem poderia atuar no futebol só com minha família, pois eu já tinha praticamente um time dentro de casa”, brincou.





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